quinta-feira, 27 de março de 2008

Produção no Telejornalismo

Breve História

Imagens do Dia foi o primeiro telejornal brasileiro. Nasceu com a TV Tupi de Assis Chateaubriand (Diários Associados) na primavera de 1950, exatamente no dia 19 de setembro. Durou um ano. Tinha um formato simples: o locutor Rui Resende produzia e redigia as notícias. Algumas notas tinham imagens feitas em filme preto e branco, sem som.
Mas o primeiro jornal de sucesso da televisão brasileira foi o Repórter Esso, também da Tupi. Ficou no ar de 17.06.53 até 1970, com sua inesquecível vinheta de abertura (“Aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da História”), apresentado por dois destacados locutores de rádio: Kalil Filho e, depois, Gontijo Teodoro.
Entretanto, no final da década de 60, as inovações tecnológicas importadas dos EUA, entraram no telejornalismo brasileiro e o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, criado por Armando Nogueira, estreou em 1º de Setembro de 1969, tornando-se líder de audiência e referência da imprensa nacional. Foi o primeiro a apresentar reportagens em cores, o primeiro a apresentar reportagens internacionais via satélite no instante em que os fatos ocorriam. O estilo de linguagem, a narrativa, a figura do repórter, o formato tinham os telejornais americanos como modelo.
A história do telejornalismo brasileiro destaca, também, o TJ Brasil, lançado em 04.09.1988, no Sistema Brasileiro de Televisão-SBT (de Silvio Santos). Também se inspirou no formato americano ao inovar com a emblemática figura do âncora Boris Casoy, que saiu do jornal impresso e logo se acertou com a TV, conquistando seu espaço e seu público. Em meados de 1997 Casoy foi para a TV Record.
Também em 1997 a televisão brasileira ganhou outro jornal importante, o Jornal da Band, igualmente influenciado pelos costumes americanos, apresentado por Paulo Henrique Amorim, com um estilo forte e opinativo, com informações exclusivas e ao vivo.

Texto e Imagem

É necessário lembrar, ainda, que no telejornalismo o papel da palavra é dar apoio à imagem. O texto só tem sentido quando está casado com a imagem, quando se relaciona com ela, quando não entra em conflito com ela. Ambos precisam se completar, ao invés de caminharem em paralelo, pois neste caso um não faria falta ao outro. Um erro muito comum é a redundância do texto que ao invés de falar sobre as imagens, limita-se a descrevê-las como se o telespectador não as estivesse vendo. Nesses casos desperdiçam-se enormes recursos para fazer jornal falado ou rádio na TV. Fica monótono, chato, cansativo. Não vale a pena.
Para evitar esses equívocos, o melhor é o repórter ver as imagens antes, fazer a minutagem delas para facilitar a edição e, então sim, escrever sobre elas. Nunca fazer o contrário, isto é, produzir um texto e depois tentar cobri-lo com imagens. Telejornal não é filme de longa metragem. Nas situações de emergência, quando não dá tempo de ver e rever as imagens, o repórter poderá se sair bem se tiver a seqüência delas “na cabeça” e contar com as anotações feitas no local.
A boa reportagem, que casa texto e imagem, é aquela que também leva em conta o desempenho do jornalista, porque não basta ter boas imagens e boas informações. Também é preciso passar emoção, para que a matéria tenha vida e dê conta de informar ao receptor o que aconteceu, quando aconteceu, onde aconteceu, porque aconteceu, quem protagonizou, como aconteceu. Para tanto é preciso que o texto identifique os elementos fundamentais da notícia deixando que a imagem cumpra seu importante papel na tela.

A rotina de trabalho dos editores

A redação é constituída por editor-chefe, editor executivo, produtores, editores, apresentadores, editores de texto e repórteres. As fontes de informação são: as agências noticiosas, as editorias, entre outros.
O telejornal é como o meio mais simples, cômodo, econômico e acessível para conhecer e compreender tudo o que acontece na realidade e como se transforma a sociedade. A definição, aparentemente simples, esconde uma complexidade. O pressuposto é de que a informação televisiva seja um bem público.
O que caracteriza um bem público é o fato de que se pode adquirir livremente, seu consumo está ao alcance de todos e que todos e cada um dos indivíduos tenham a possibilidade de prescindir do dito bem, sendo que se alguém renunciar ao consumi-lo, segue sendo consumidor do produto ao menos de seus efeitos externos, aos quais é impossível se subtrair. A notícia é simultaneamente um registro da realidade social e ao mesmo tempo um produto dela.
A rotina de trabalho dos editores de texto e como ela influência na definição do que é notícia. É na edição do trabalho realizado por repórteres e cinegrafistas na cobertura dos eventos do dia-a-dia que as matérias são recontextualizadas. Ou seja, a notícia é elaborada de acordo com uma lógica estabelecida pelo formato, tempo, entre outras características do telejornal. As notícias duras são as notícias factuais: uma sessão da CPI dos precatórios, por exemplo, ou uma blitz da polícia num morro do Rio, podem perder a atualidade se não forem dadas; as leves, ao contrário, são aquelas notícias que não perdem atualidade e podem ser dadas a qualquer dia, como uma exposição que vai ficar aberta durante um mês.
As notícias súbitas não são programadas e devem ser processadas imediatamente. É o caso de um grande incêndio no fechamento de uma edição de um telejornal. A incapacidade da previsão afeta o fluxo do trabalho informativo. Notícias em desenvolvimento são aquelas que se referem a situações de emergência; foi o caso do acidente com o avião da TAM. Os fatos vão se desenrolando. Ainda que o fato seja o mesmo, o número de vítimas pode aumentar, as causas do acidente podem ser outras do que a afirmada no começo da cobertura.

O editor-chefe é o primeiro a chegam à redação. É ele quem começa a organizar o jornal, a preparar o espelho. Olha matérias que já estão à disposição para serem utilizadas de outros telejornais.
As entradas ao vivo de repórteres também acontecem em outras notícias e têm como finalidade atualizar a notícia, mostrando imagens do local em que ocorreu a notícia. Esses nets dão uma boa margem de manobra ao editor-chefe que pode jogar com os ao vivo no telejornal para cobrir uma eventual falta de tempo ou mesmo quando uma matéria prevista acaba caindo, porque não deu tempo para realizá-la ou por falta de tempo.
O editor-chefe vai distribuindo as matérias pelos blocos a partir dos seguintes critérios: um factual forte, um fato que tenha interesse e atinja o maior número de pessoas e que tenha uma boa imagem. Para o produtor, a imagem espetacular sempre interessa à televisão. É nesse processo, bem como no da edição, que o mundo é recontextualizado. Os fatos que foram retirados do seu contexto na rua agora são reorganizados de acordo com a lógica de produção do telejornal.
Durante o processo de organização do pré-espelho, o editor-chefe vai negociando as matérias com a subchefia de reportagem, que oferece uma notícia, comenta outra e assim o noticiário começa a se estruturar. O pré-espelho pode ser acessado por qualquer pessoa do telejornalismo. Qualquer alteração no espelho é feita exclusivamente pelo editor-chefe. Não se trata só de uma questão hierárquica, mas de organização, já que se todos pudessem interferir no telejornal, o caos estaria institucionalizado.
Nos plantões de fim de semana, o quadro não é substancialmente diferente em se tratando das rotinas de preparação do telejornal. Mesmo assim, o editor-chefe procura tomar alguns cuidados para evitar ser pego de surpresa com a falta de notícias do fim de semana e a diminuição do número de equipes de reportagem.
Para os editores de texto, o sábado também é um dia fraco em termos de matérias. Uma possível explicação é que no sábado não funcionam as instituições com as quais os jornalistas estão acostumados a trabalhar: prefeitura, secretarias municipais, associações, etc.
Para se precaver contra isso, o editor-chefe procura deixar uma matéria de gaveta. A equipe como um todo procura deixar o jornal praticamente produzido na sexta-feira para evitar algum imprevisto no fim de semana. Os procedimentos anteriormente explicitados são mantidos.

A distribuição das matérias é feita de uma maneira informal, pode haver uma pequena reunião ou então, na medida em que os editores de texto vão chegando, o editor-chefe vai passando as fitas da reportagem ou as retrancas que eles devem fazer. Depois de distribuídas às matérias, ele vai para a redação e os editores para as ilhas de edição.
Na edição, há uma decupagem e seleção do material a ser usado, que vai ser transformado em notícia televisiva. O editor verifica o off do repórter, onde ele conta o que aconteceu, o que os entrevistados disseram e se há uma passagem do repórter. Verifica também as imagens, um item que todos os editores ressaltam como fundamental. Imagens fortes como a libertação de um seqüestrado é sinônimo de uma notícia factual forte.
Os critérios de avaliação usados pelos editores para definir o que vai ser usado e o que deve ficar de fora da matéria - o material que vem da rua tem em média 10 minutos de produção e uma notícia editada fica entre um 1min30s - são: factual, o dia a dia da cidade (acidentes, engarrafamentos, buracos de rua, etc.), tem que despertar o interesse das pessoas (uma matéria sobre as corredeiras na Serra do Mar).
Um dos aspectos que os editores julgam como fundamental na edição de uma matéria são as imagens (um incêndio). Imagens boas e fortes. Eles consideram isso imprescindível na edição de uma matéria. Nem todo o receptor decodifica um texto, mas todo receptor decodifica uma imagem.
Um fato comum de ocorrer é que a matéria feita na rua só tenha imagens. As informações sobre o assunto são obtidas posteriormente pela produção. Então, o editor faz uma nota coberta. Ou seja, redige uma nota que será coberta pelas imagens captadas sem o repórter. A nota coberta também é utilizada para salvar matérias.
A notícia de um telejornal tem a abertura (um fato importante para chamar o assunto), a entrada da matéria, a parte que vai ser lida pelo locutor e chamar o VT; o videoteipe, a matéria editada.
Essa matéria deve ter os créditos das pessoas que foram entrevistadas, do repórter e do cinegrafista. Deve ter ainda uma deixa final. A última frase que um entrevistado disse, por exemplo, para que o diretor de TV possa saber onde a matéria encerra na hora do jornal ir ao ar.

Antes de o telejornal entrar no ar o diretor de TV confere as páginas com toda a equipe sob seu comando com o editor-chefe e o coordenador. Qualquer erro pode comprometer toda a operação do jornal. É aí que entram os já conhecidos slides com a marca dos telejornais no ar. Quando esta tudo checado. Páginas, áudio e vídeo, o jornal pode entrar no ar.
Após o telejornal há uma reunião - é mais uma conversa informal de todos os editores, o editor-chefe, produtores, subchefia de reportagem e mais tarde a chefia de reportagem, para trocar algumas idéias sobre o telejornal e preparar o do outro dia.

Os critérios estabelecidos pelos editores de texto na hora de editar as matérias, como o número de pessoas e coisas inusitadas, são classificações que indicam um enquadramento que busca padronizar o que foi elaborado dentro de uma rotina de trabalho. Da mesma forma também procede ao ancorar a escolha de notícias para entrar no jornal em tipificações, ao considerar que é notícia um fato que atinja um grande número de pessoas.
Diariamente os editores têm que ir administrando as dificuldades. O editor-chefe está sempre preocupado com o fechamento do jornal, com a falta de matérias que pode prejudicar o andamento do telejornal. Os editores, pressionados pelo tempo, por exemplo, não podem refazer com o repórter uma matéria mal estruturada porque eles sempre estão na rua fazendo novas matérias, procuram fazer de tudo para que não faltem notícias para o jornal.
O processo produtivo da informação é que a noticiabialidade de uma notícia é constantemente negociada: o editor-chefe negocia com a subchefia de reportagem e com os editores de texto os fatos que podem ser noticiáveis um exemplo são as explicações do editor dos motivos pelos quais está derrubando uma matéria, também os editores de texto negociam, algumas vezes, com os editores de imagem, a melhor forma de montar uma matéria.
O imediatismo está relacionado diretamente com a questão do tempo na televisão. E o tempo com o fechamento do telejornal. Já no começo da manhã a maior preocupação do editor-chefe é a de organizar as matérias para evitar dificuldades no fechamento.
O planejamento ao qual o telejornal é submetido - pauta do dia, matérias previamente editadas, distribuição das matérias pelos blocos, entre outros tem também como preocupação responder às necessidades do chamado deadline (a linha da morte). É uma das formas de racionalizar as rotinas produtivas.
Ao redigirem a cabeça da matéria, abertura da notícia, os editores de texto normalmente conversam entre si e com o editor-chefe na busca de uma sugestão para torná-la mais interessante, mais agradável, que cative o telespectador. É o papel desempenhado pelo conceito de tempo na estrutura da apresentação e do estilo da notícia.
É no processo de seleção das notícias e do editing, da edição, que os jornalistas vão recontextualizar o mundo. O editor-chefe na distribuição das retrancas ao longo do telejornal e os editores de texto na montagem/edição de suas matérias.
Todas as fases anteriores à produção e captação funcionam no sentido de descontextualizar os fatos do seu quadro social, histórico, econômico, político e cultural em que são interpretáveis. Os fatos se submetem às exigências das rotinas de produção do jornalismo.
Na edição, dá-se justamente o contrário, recontextualizam-se os fatos num quadro diferente, dentro do formato estabelecido pelo telejornal.
A importância da imagem no telejornalismo ressaltada pelos editores de texto e pelo editor-chefe está associada à necessidade que a informação televisiva tem de representar de uma forma sintética, breve, visualmente coerente e significativa o objeto da notícia.
A notícia de televisão é concebida para ser completamente inteligível quando visionada na sua totalidade. O seu foco é, pois, um tema que perpassa toda a notícia e que se desenrola do início até o meio e do meio até o fim. Em comparação com a notícia de jornal, ela é mais coerentemente organizada e coesa. A diferença está associada ao fato de a televisão estar organizada e apresentada no tempo, enquanto a edição do jornal está apenas organizada no espaço.

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